PRODUÇÃO DE TEXTO E DISCURSIVIDADE NO ENSINO MÉDIO
Este trabalho pretende ser uma reflexão e ao mesmo tempo uma realização prática da produção de texto na modalidade escrita, por alunos do segundo ano do ensino médio de duas escolas públicas da rede estadual de ensino em Campo Grande, sendo que em uma das escolas, a escolha deverá recair sobre os aspectos de funcionamento em turno matutino e de localização periférica, a outra por sua vez deverá ser de funcionamento em turno vespertino e de localização central.
Pretende-se que esse critério inicial de seleção das escolas possibilite analisar posteriormente, os aspectos socioculturais e referenciais dos alunos no tocante ao acesso aos meios passíveis de ampliação do horizonte e repertório de conhecimentos e de que maneira esse acesso ou não, possa refletir no texto escrito do aluno.
Objetivo geral: Incentivar, acompanhar e analisar a prática de produção de texto na modalidade escrita. Objetivos específicos: Através da apresentação de temas como proposição para produção de texto na modalidade escrita, disponibilizar num primeiro momento espaço de tempo para leituras e reflexão individual sobre os temas propostos, num segundo momento, selecionar um tema e incentivar debates envolvendo o grupo todo, sendo tais debates seguidos de questionamentos em que prevaleça a dialogicidade para que sirva de referências para a escrita.
Os textos escritos pelos alunos serão objetos de estudos, realizados pelo pesquisador juntamente com os alunos produtores, tanto na organização linguística, quanto na comunicação discursiva.
Os referidos estudos linguísticos e discursivos servirão de bases para retextualização. O que se espera é que o aluno do ensino médio em questão tenha no final das atividades, conhecimento suficiente que lhe possibilite a produzir com clareza textos escritos, coesos e coerentes em qualquer gênero de discurso.
Justificativa / relevância do estudo: A produção de texto na modalidade escrita nas escolas de ensino médio, produção esta, que os professores e alunos preferem denominar de redação, tem sido ao longo dos tempos o nó górdio do ensino de português, decorrente da prerrogativa em manter a supremacia do ensino da gramática normativa, ou gramática da norma culta ou padrão, sempre em proeminência como se fosse o ensino da própria língua.
Essa postura metodológica pressupõe a concepção de língua como sistema de signos abstratos, formas linguísticas apresentadas como instrumento pronto para a comunicação, assim acredita-se, que apreendendo a nomenclatura e as regras contidas na gramática normativa aprende-se a empregá-las na codificação de textos propícios para a comunicação entre emissor e receptor.
No âmbito dessa concepção de língua não há discrepância metodológica em se promover uma separação entre ensino de gramática e ensino de produção de texto, ou redação como assim preferem professores e alunos.
Os pressupostos são de que a língua já exista como sistema de signos socializados nas mentes dos falantes, basta então, que se conheçam as regras normativas dessa língua para que se possa codificá-la, desse modo ocorre a comunicação, quando o destinatário também conhecedor desse código realiza a decodificação.
Ao formalizar a língua como objeto de estudo da linguística, Saussure (1971) a separa da fala, deixando de fora também o sujeito e o contexto socio-histórico, daí não haver discrepância em separar ensino de gramática e produção de texto ou redação, no âmbito dessa concepção, acima descrita, formalizada por Saussure.
Acredita-se que não serão poucas as dificuldades de produzirem textos interlocutivos, coesos e coerentes, quando deles solicitados, os aprendizes da gramática normativa divorciada da produção de texto. A coesão e coerência devem instruir o texto para que este tenha clareza e comunique o que se propõe, contudo não se aprende coesão e coerência estudando gramática normativa constantemente divorciada do texto, tampouco se faz historicamente e permanentemente leituras do mundo circundante, para que se possa ancorar no conhecimento advindo dessas leituras referenciais e assim ter elementos historicamente internalizados para desenvolver o texto, tanto na modalidade escrita quanto na modalidade oral, no caso específico desse estudo trata-se, da modalidade escrita.
Ante o exposto outra proposta de produção de texto na modalidade escrita se justifica, qual seja a proposta embasada na teoria da enunciação, em que se concebe a língua como instrumento de interação entre sujeitos que se constituem e se alternam na comunicação discursiva.
Bakhtin (1986) ao propor o interacionismo como suporte linguístico fundamental na comunicação discursiva, não o fez sem antes discorrer longamente, apontando as veleidades das concepções anteriores. Ao findar os comentários em relação às proposições teóricas anteriores, Bakhtin apresenta suas concepções teóricas: “A verdadeira substância da língua não é constituída por um sistema abstrato de formas linguísticas nem pela enunciação monológica isolada, nem pelo ato psicofisiológico de sua produção, mas pelo fenômeno social da interação verbal, realizada através da enunciação ou das enunciações. A interação verbal constitui assim a realidade fundamental da língua”.
É nessa linha teórica de Estudos Bakhtinianos, que entendo a plausibilidade desse estudo de Produção de Texto e Discursividade no Ensino Médio, uma vez que será realizado nos textos produzidos pelos próprios alunos, o estudo do discurso através das marcas enunciativas e da língua por meio das práticas de análise linguística, análise discursiva envolvendo questões estilísticas, seguidas de práticas de retextualização.
Prof. Dr. Antonio José Filho.
Pesquisa de pós-doutoramento desenvolvido no Programa de Mestrado em Letras, UEMS da Unidade Universitária de Campo Grande-MS.
Vinculado ao NEAD – Núcleo de Estudos em Análise do Discurso.
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